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José Raúl Capablanca y Garupera (1888-1942)

Desconhecido - http://www.gettyimages.co.uk/detail/news-photo/cuban-chess-champion-jose-raul-capablanca-news-photo/3378095

A simplificação mágica de Capablanca!

Strategy
A eterna contribuição do genial cubano para o xadrez!

Acredito que ninguém pode negar que o famoso jogador José Raul Capablanca foi um dos maiores enxadristas que já surgiu. Presença marcante, aberto a conversas, sempre frequentava o Clube de Xadrez de Manhattan em Nova York, e ajudava os jogadores que lhe pediam uma orientação. No tabuleiro possuía um jogo extremamente simples com muita objetividade se baseando em seu forte jogo posicional e exímio cálculo em finais de dar inveja a qualquer matemático. Não entrava em aberturas desconhecidas ou linhas exóticas, e quando o seu oponente tentava complicar a posição, rapidamente se esquivava conduzindo a linhas mais tranquilas.

Mas o maior legado de Capablanca é o modo como ele simplificava a posição buscando manter apenas os elementos que desequilibram a seu favor. Vamos tentar explicar: Sabemos que nos primeiros lances de uma partida, dependendo das variantes que os jogadores realizam, surgem temas posicionais no tabuleiro, tais como peão isolado, peão atrasado, par de bispos, maioria de peões em uma das alas, peão passado, etc. As escolhas de aberturas, as imprecisões e erros nessa fase do jogo dão origem a essas situações.

Teoria da simplificação

Quando Capablanca observava este desequilíbrio na posição, ele já elaborava um plano para simplificar a posição trocando as peças que estão em plena igualdade no tabuleiro, mantendo assim o tema posicional que surgiu. Essa estratégia era realizada controlando o contrajogo do adversário (sim, alguns dos seus oponentes percebiam e tentavam reverter a situação). Desse modo, aparentemente sem realizar cálculos profundos, o mestre cubano conduzia o jogo posicional até arrematar com algum tema tático ou levando a um final totalmente ganho, e com isso arrancava vitórias incríveis com uma simplicidade que o eternizou nesse esporte.

Porque essa teoria é importante? O xadrez de hoje é muito mais dinâmico que o da época do mestre cubano. Grandes mestres depois dele implementaram aberturas inovadoras, linhas hipermodernas, até mesmo muitos preferem o verdadeiro caos no tabuleiro. Mas, a ideia do ex-campeão mundial é bem simples de entender e muitas vezes até subestimado, uns acham até ultrapassado(!). Da mesma forma que os estudos de Philidor permanecem e irão perdurar, a teoria da simplificação de Capablanca também durará muito tempo, e será de extrema importância que esta geração a conheça e tenha como um de seus recursos durante as partidas. Muitos mestres do passado já declararam abertamente que seguem os seus ensinamentos, tais como Anatoly Karpov e Mikhail Botvnnik.


Capablanca x Boris Kostic

Aqui um exemplo de como Capablanca conduzia seus jogos com base nessa teoria. Esse é um dos jogos do match realizado em 1919 contra Boris Kostic, um forte jogador da antiga Iugoslávia, onde o cubano venceu todas as cinco partidas.

https://lichess.org/study/Ijx9bzC7/CeFc5zjM


Aron Nimzowitsch x Capablanca

Diferentemente da partida anterior que transpunha para um final vencedor, aqui ele explora o bispo mau do lendário jogador da Letônia convertendo para um ataque demolidor! Partida jogada em 1927 quando os dois oponentes estavam no auge de suas carreiras!

https://lichess.org/study/Ijx9bzC7/ZeHkd80m


"No xadrez, aprende-se mais de uma partida perdida do que cem ganhas" José Raul Capablanca (1888-1942)